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Abstract:
Breve resumo da vida deste monarca persa do sec. XIX e sua relação com a religião Bahá'í. Short description of Nasiri'd-Din Shah and his relation with the Bahá'í Faith.
Notes:
From povodebaha.blogspot.com.
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INTRODUÇÃO Quem fale um pouco com iranianos sobre o passado do Irão facilmente percebe o orgulho que sentem na sua história. Tiveram reis extraordinários, ministros e governantes respeitáveis, sacerdotes e místicos admiráveis, poetas e intelectuais famosos, artistas e construtores fantásticos. Mas a história de qualquer nação, ou povo, tem altos e baixos. A dinastia Qajar[1] (1796-1925) ocupou o Trono do Pavão num tempo em que a Pérsia se deixou asfixiar pelas pressões da vizinha Rússia e da Grã-Bretanha. A primeira ia alargando os seus territórios e influência no Cáucaso; a segunda afirmava-se como uma grande potência mundial. O monarca dessa dinastia que reinou durante mais tempo foi Nasiri'd-Din; durante a última metade do séc. XIX, ele confiou o destino político da Pérsia a sucessivos primeiros-ministros. Além das pressões russa e britânica, existiam também influências económicas, sociais e tecnológicas que iam abalando a sociedade persa. Foi durante esses tempos conturbados que as religiões Babí e Bahá’í surgiram na Pérsia. Em 1848, Nasiri'd-Din encontrava-se em Tabriz, capital provincial do Azerbaijão persa, quando recebeu a notícia da morte de seu pai, o Xá Muhammad. Nunca tinha sido o filho predilecto, ao contrário do seu irmão Abbas. O novo Xá, com 19 anos, era muito imaturo para o novo cargo; os seus interesses principais centravam-se nas mulheres e na caça. Alguns historiadores referem que estes foram sempre os interesses do Xá ao longo da sua vida; os assuntos da governação eram sempre confiados aos ministros. AMIR KABIR, O PRIMEIRO-MINISTRO O seu preceptor, Amir Kabir, acompanhava-o desde muito novo. Quando o príncipe Nasiri'd-Din sucedeu ao seu pai, Amir Kabir foi nomeado conselheiro, e posteriormente, primeiro ministro. Amir Kabir é invariavelmente descrito como um homem inteligente e brilhante cuja grande sonho era devolver ao Irão o seu antigo estatuto de potência próspera e respeitada; os seus métodos de governação, porém, revelariam um homem totalitário e brutal. Os primeiros anos da governação do novo monarca com o seu primeiro-ministro mostravam que a Pérsia se tentava modernizar. Com o Xá frequentemente alheado dos assuntos da governação, Amir Kabir não olhava a meios para modernizar o país: organizou um sistema postal e reestruturou as finanças do estado; eliminou despesas supérfluas, reorganizou o exército e estimulou a economia; lançou as primeiras campanhas de vacinação e fundou a primeira universidade persa. Nas províncias fronteiriças colocou governadores de lealdade inquestionável. Além disto, estabeleceu sólidas relações diplomáticas com os otomanos, e criou obstáculos à influência britânica e russa no país. Apesar destas realizações notáveis, Amir Kabir é recordado por ter sido ele a dar a ordem de execução do Báb; acredita-se que o Xá teria sido pouco influente nessa decisão. Apesar de Amir Kabir ser repetidamente descrito na literatura baha’i como um dos mais poderosos inimigos dos Babis, é interessante ter recordar umas palavras de 'Abdu'l-Bahá sobre este governante: "Apesar do facto de ele ter oprimido esta Causa como ninguém mais o fez, Mirzá Taqi Khan[2], o Primeiro Ministro, em assuntos de Estado e política, estabeleceu o que foram as fundações verdadeiramente firmes, e isto, apesar de nunca ter frequentado escolas europeias. Na verdade, a verdadeira educação promove a condição do indivíduo de forma a que ele consiga sabedoria, consciência e confirmações divinas"[3] O DECLÍNIO O sucesso das realizações de Amir, e os seus programas de redução de despesas desnecessárias, valeram-lhe vários ódios e muitas inimizades. Estes surtiram uma série de intrigas palacianas que culminaram primeiramente na deposição e exílio, e posteriormente na sua execução. Com o fim da influência de Amir, termina também um ciclo reformista inicial do primeiros anos de governação do Xá Nasiri'd-Din; muitas das iniciativas de Amir Kabir foram abandonadas, a economia perdeu os seus incentivos, a vacinação foi esquecida; apenas a universidade continuou a funcionar conforme planeado. além de tudo isto, os governantes seguintes agravariam um estilo de governação despótica e profundamente corrupto. O Xá Nasiri'd-Din visitou países europeus, encontrou-se com a Rainha Vitória e com o Kaiser Guilherme I. Visitou a Rússia, a Holanda e a Áustria. Estabeleceu ainda vários tratados com países estrangeiros, tratados esses que alguns historiadores consideram terem aberto demasiadamente as portas às influências estrangeiras. Alguns desses acordos (nomeadamente, a cedência da indústria do tabaco aos britânicos) provocaram motins e problemas com o clero. Em Abril de 1891, Nasiri'd-Din e o país preparavam as celebrações do seu jubileu. No dia 19 desse mês, o Xá dirigiu-se ao santuário de 'Abdu'l-'Azim (túmulo de um líder religioso e local de peregrinação). Quando concluiu as suas orações, um partidário de um grupo oposicionista (Siyyid Jamalu'd-Din) disparou sobre o monarca, que morreu pouco depois. Diz-se que pouco antes de morrer teria pronunciado as seguintes palavras "Se sobreviver, vou governar de maneira diferente!" O Xá Nasiri'd-Din foi um dos governantes do século XIX em cujas mãos estava o destino de milhões de seres humanos; tal como vários governantes europeus, exercia o poder de forma arbitrária, tirânica e, por ventura, mais brutal. Sendo governante do país natal de Bahá'u'lláh, não é de admirar que ele tivesse sido um dos destinatários das epístolas que o fundador da religião Bahá'í dirigiu aos reis e governantes do Seu tempo. No próximo post será sobre essa epístola, a Lawh-i-Sultán. BABIS E BAHÁ’ÍS Nasiri'd-Din foi o único monarca que acompanhou o nascimento da religião do Báb. Teve conhecimento do seu surgimento, assim que os adeptos babís se espalharam pela Pérsia. Quando ainda era apenas herdeiro do trono, assistiu a uma proclamação do Báb perante uma assembleia de clérigos e dignatários do Azerbaijão persa. Nessa ocasião o Báb terá proclamado: "Eu sou, eu sou, eu sou o Prometido! Eu sou Aquele cujo nome invocais há mil anos, a cuja menção vos levantais, cujo advento há muito desejais testemunhar, e a hora cuja revelação haveis implorado a Deus que apressasse. Em verdade vos digo: incumbe aos povos, tanto do Oriente como do Ocidente, obedecer à Minha palavras e cumprir a aliança com a Minha pessoa"[4] Em Agosto de 1852 foi alvo de uma tentativa de assassinato por parte de três babís; apesar destes terem confessado ter agido por sua iniciativa individual, esse acontecimento deixaria o seu reinado marcado por uma profunda animosidade contra Babis e Baha’is, animosidade essa que foi prontamente aproveitada pelo clero muçulmano. O seu rancor foi sendo alimentado por várias vários opositores de Bahá'u'lláh que fizeram chegar ao monarca informações segundo as quais Bahá'u'lláh conspirava contra ele; caluniavam e acusavam Bahá'u'lláh, distorciam os Seus ensinamentos. Não seria, porém, de admirar que o "problema bahá'í" fosse mais uma questão para a qual o Xá pedia o envolvimento dos seus ministros. A EPÍSTOLA DE BAHÁ'U'LLÁH De entre as epístolas reveladas aos governantes do Seu tempo, a epístola ao Xá da Pérsia (Lawh-i-Sultán) é a mais longa. Nesta, o fundador da religião baha’i proclama ser portador de uma mensagem divina e apela ao Xá para que olhe pelo povo da Pérsia com justiça e generosidade. Ao longo do texto, repetem-se exortações para que o Xá não dê atenção aos seus bens materiais, recordando que foram muitos os monarcas do passado cujos palácios hoje se encontram em ruínas, cujos tesouros se perderam, e cuja glória desapareceu. Mais do que os bens materiais a distinção do ser humano está nos seus actos, na sua rectidão e na sua piedade. Tal como o fez com outros governantes, também nesta epístola Bahá’u’lláh refere alguns aspectos da governação. No texto é denunciado o comportamento de alguns oficiais e figuras do estado que em vez de trabalhar em prol do progresso do país e serviço ao Xá, preferem denunciar algumas pessoas como Babis, apenas com o intuito de os matar e saquear as suas propriedades.[5] Um dos excertos mais conhecidos desta epístola é aquele em que Bahá’u’lláh se descreve como Manifestante de Deus. Era um homem como os outros, não tinha conhecimentos ou erudição especial, mas a Revelação Divina fê-Lo expressar a vontade de Deus e proclamar uma nova Mensagem. Alguns excertos: «Ó Rei! Eu era apenas um homem como os outros, adormecido em meu leito, quando eis que os sopros do Todo-Glorioso manaram sobre Mim e Me deram o conhecimento de tudo o que já existia. Isso não provém de Mim, mas d’Aquele que é Todo-Poderoso e Omnisciente. E Ele ordenou-Me que levantasse a Minha voz entre a terra e o céu, e por isso Me sucedeu o que fez correr lágrimas de todo os homens de compreensão. A erudição comum entre os homens, não a estudei; nem entrei nas suas escolas. Pergunta na cidade em que residi, a fim de teres a certeza de que Eu não sou dos que falam falsamente. Este Ser é apenas uma folha movida pelos ventos da Vontade do teu Senhor, o Todo-Poderoso. Alvo de todo louvor. » (...) «Contempla este Jovem, ó rei, com os olhos da justiça: então, julga com verdade, daquilo que Lhe sucedeu. Verdadeiramente, Deus fez-te a Sua sombra entre os homens e sinal do Seu poder para todos os que habitam na terra. Julga tu entre Nós e aqueles que Nos injuriaram sem prova e sem um Livro esclarecedor. Os que te rodeiam amam-te por seus próprios interesses, enquanto este Jovem te ama por ti mesmo, nenhum desejo nutrindo a não ser o de te fazer aproximar do trono da graça e te dirigir à direita da justiça. » (...) «Oxalá Me permitisses, ó Xá, enviar-te aquilo que poderia alegrar os olhos e tranquilizar as almas e fazer toda pessoa sensata acreditar que o conhecimento do Livro está com Ele... Se não fosse o repúdio dos insensatos e a conivência dos sacerdotes, Eu teria proferido palavras que extasiariam os corações, transportando-os para um reino cujos ventos se fazem ouvir, murmurando "Nenhum Deus há senão Ele!..."»[6] Esta Epístola foi revelada em Adrianópolis, mas só seria enviada para o Xá durante o exílio de Bahá'u'lláh em 'Akká. A história do portador e da forma como foi entregue ao Xá é particularmente interessante e merece um outro estudo. -------------------- NOTAS [1] - Ver também Qajar Dynasty: http://www.farhangsara.com/history_qajar.htm [2] - Outro nome pelo qual Amir Kabir também era conhecido [3] - Zarqani, Badá'í'ul-Athar, Vol 2, p.144, citado em The Bábi and Bahá'í Religions, 1844-1944; Some Contemporary Western Accounts, pags 160. [4] - Adib Taherzadeh, The Revelation of Bahá'u'lláh, vol. 2, p. 336 [5] – Nos meios políticos e religiosos da Pérsia naqueles anos, um método normal de destruição de um inimigo era acusá-lo de ser Babi. Antes da vitima poder provar a sua inocência, seria castigada, por vezes com a pena de morte [6] – Os excertos desta epístola já traduzidos para inglês encontram-se aqu: http://reference.bahai.org/en/t/b/PB/pb-12.html. |
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